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quinta-feira, 26 de julho de 2012






...Meu jogo é um espalhar de pedras de xadrez...
meu olhar não desvia a atenção da rainha
e do rei sempre indefeso
e a simetria do tabuleiro não muda!
Os peões são tantos
E raras são as vezes que não serão
eles minhas moedas de troca

Monto as peças como a regra manda
Na enfileirada cortina que protege o Rei
e sua tola fragilidade...
A rainha a seu lado
Mas a espreita visão, negra ou branca
sucumbirá outro reino alheio
começo um jogo novo montado no cavalo
Para esquerda?
Para direita?
Não importa tanto
Jogo contra mim mesmo
Posso espalhar as peças agora, uma a uma...


Luciano Lopes.

Falha





Dentro desse mundo, opção compulsória, de outro mundo, creio tanto. Que todo dia eu espero enfim acordar. E no outro, nele imagino e torço muito, para eu ser uma pessoa menos complicada. Sonho, todos os dias nesse aqui, que no outro, eu sou bem mais simples que esse que eu vejo no espelho... Acredito tanto que esses contornos que enxergo, deve ser em outra coisa, que nem deve ter nome de espelho...



Luciano Lopes.





Olho todos os lados
a solidão tão decantada veio
Abaixo os olhos eu procuro
A dor
Não há
Nem algoz...
Meu mundo se desenvolve
na velocidade
dos meus suspiros de lamentos
por minha inocência com ruídos de vaidade
por eu não escolher minha solidão
por meu “dar de ombros” a quem meu deu amor
Há em cada pessoa uma pequena falha de conduta
Aceita e excitada às vezes...
Quiçá, culpa do pecado original.

Luciano Lopes





Nessa página que fica me perguntando no que estou pensando, penso nos que dizem sempre que se pudessem voltar atrás não cometeriam os mesmos erros... Se eu voltasse atrás e fosse o mesmo, sem tirar nem por, provavelmente iria cometer os mesmos erros... Até hoje cometo erros análogos...só que com mais rigor e com roupas menos despojadas.

Luciano Lopes.

terça-feira, 17 de julho de 2012


Deixei o cheiro do café
Invadir meu olfato
Acordei por ele
Depois pelo sorriso...

abri os olhos e
notei sua ausência
ao meu lado
Invadiu-me um arrepio
da certeza da sua volta
com o carinho daquele cheiro
que estava no ar

Naquela manhã não ficaria sem você...

Luciano Lopes

segunda-feira, 16 de julho de 2012

SAUDADES




Com fotos espalhadas
Sobre a cama
e mãos confusas por serem só duas
e nada como escudo
sobrevivo de saudades...

Aponto as fotos com morder de lábios
Com toques de dedos perdidos
e com o que despejo dos olhos
Aprendo que minhas saudades não sabem datas
O que grava isso em mim é de propósito
desorganizado
E os quadros de minhas lembranças
Misturam-se com as fotos...
E as cores desbotam-se
Aponto os momentos...
Aqui cabia um sentimento a ser confessado
Ali um silêncio a ser escolhido...
Ter dito dos sorrisos
Dos vestidos
Dos abraços
E do turbilhão de amor que deixou em mim
vivo esse exagero de passionalidade
a que fui condenado...

Devíamos ter descoberto logo
o quanto brincávamos de abismo...

Luciano Lopes

segunda-feira, 9 de julho de 2012

2ª morte





Deixem quietas minhas ilusões
Algo em mim
Deixou de se regenerar
É uma ferida crua
e crônica...
Vigio a esquina que dobrei as pressas
Não há ninguém...
Espalmo a mão nos tijolos maciços
e úmidos...
Procuro o fôlego
Sinto o gosto dos tijolos na boca
A vida grita realidade...
A saliva, a ânsia,
a ansiedade e a espreita...
Não há ninguém,
desventurado que sou,
importunando minhas ilusões...

Luciano Lopes

MEDO




Preso a saída da porta
Com sintomas de síndrome
Encosto as mãos trêmulas
No portal
Sinto o calor acumulado
da tarde no aço fundido
Quase abstraio
Quem sabe mais um pouco
de calor e a dor era alivio...
Vejo a rua turva
Escorre do azul profundo
o preço
da paga
do meu sobrestamento
em viver plenamente...

Luciano Lopes.

NAS PEQUENAS COISAS






Quando se achava todo já se havia dito
sentido
esquecido
Se aquietado no tempo do verbo perfeito
Vem a saudade ávida ainda e viva
Que sabe todos os atalhos
Com os olhos da alma
que tem visões periféricas
que só o coração enxerga
e só ele traduz...

E da forma sempre irracional que ele escolheu
E aonde nada mais deveria acontecer
há um pouso suave de uma borboleta
multicores
e o perfume de um jardim de jasmim
O homem é movido pela profundidade
que o afeto alcança nele

Luciano Lopes.

POR QUE SEI QUE É AMOR




E quando teus medos dormirem
E quando tuas guardas baixarem até seus pés
E tuas cicatrizes forem
para que a outra metade encaixe
Tu nem vais sentir...
O amor não tem tempo
nem números
Pode ser só um
Podem ser muitos
Podemos ter que parar de contarmos
O que não podemos é esconder nunca
são belas cicatrizes que ele insiste em deixar
na gente enquanto a vida em nós...


Luciano Lopes.

TERNURA DESAPROVEITADA




Você é tão bela
devia eu saber acolher
qual é o carinho que você separou
para mim
Devia eu entender que outros lhe cortejam
Tão pouco eu posso dar- lhe
Senão essa ternura toda
que decantei das ternuras
todas que furtei...
Você é tão livre
que o carinho que você me dá é só meu
mas eu devia entender que há tantas virtudes em você
que transborda carinho para outras pessoas
e tão pouco eu posso suportar
pois enquanto furtava preparo para você
Esqueci da compaixão que sinto desses ciúmes
inesperado de quem vai agir adivinho-me
como um adolescente desprevenido.

Luciano Lopes.

NOTURNO




Num ato tresloucado, “normal,”.
dos meus, deixei o dorso aberto
despreparado, à espera de algo esquecido
A espera de ser acordado
com um espalhar de pelos
que transformasse em soluços e espasmos
a falta desses reflexos que escondi em mim...
O suor desceu rosto a fora ansiedade
arderam meus olhos
com meu próprio sal
Eu menti para carne desejada
e ela mentiu para mim
cedeu algo dentro de mim
que eu ouvi o barulho
Eu pari um choro
que minha boca sentiu
o gosto do meu próprio sal
Sorvi do vinho amigo como veneno
Senti o gosto com meus fluidos
amanheceu o dia...
De dia nada me afeta
A carne desejada
não era mesmo desejada
a ambição era por sua alma
- Não se captura almas-

Luciano Lopes.

Devoção




Não gostaria de ser
nem uma vírgula ruim
num no texto
que conta o dia bom
de uma pessoa
que eu anseie
nem mesmo um hífen
que separasse a sílaba
de uma palavra se não for para ser conforto
Que eu não seja nem mesmo o silêncio
já que ele pode ser nobre
se não for pra ser um bem
que eu seja uma bolha de sabão
que se formou a noite ao acaso
e a noite mesmo
no acaso seguinte seja perdida.

Luciano Lopes.

Maresia





Com coração quente
As mãos frias
Um sorriso tolo
Inseguro,
Olhos novos,
Sensível,
Segurando a respiração
Para não espantar você
... Como quando adolescente
à primeira menina que encostou
sua cabeça em meu ombro
(-ah! Deus tem horas que a gente podia dar conta
de segurar a respiração um pouco mais)
Eu não queria me mexer
tamanha era a magia daquele momento...
Desarmado,
Ingênuo
Taquicardíaco,
Não entre por porta nenhuma...
Entre sim!
Todas elas então oferecidas
antes mesmo dos meus preparos
E quem disse que eu estou preparado?
Que eu não vou fugir fenda qualquer
dessas emoções todas?
Vou não...

Luciano Lopes.

PARTIDOS




No afago de ontem a profecia. Era o último afeto que ela lhe daria. Na face dele as linhas duras de ontem.
A dor e o orgulho de quem não moveria um só músculo para deduzir clemência.
Ele o vazio... O suor entregava-lhe a aflição que ela tanto sabia. A camiseta colada ao corpo e a sensação de evisceração.
Ela a mágoa... Suas mãos pequenas agarravam-se firmes nas alças da bolsa como se buscasse equilíbrio e postura.
Ele a olhou indo na direção oposta. Tão miúda! Não conseguia conciliar em sua memória o motivo de sua partida.
Olhou para o sol até não suportar mais. Voltou às vistas para ela.
Era só um vulto disforme enfeitado de vários tons de sol.

Luciano Lopes.

O BOM LADRÃO





Rodando ciranda com a existência
não sou brisa
ou jardins
Sou feito de tijolos
tirados de uma construção
e grafites de becos ambíguos
Nessa roda viva
vou perdendo as forças das pernas
e das mãos estendidas
vou entendendo
que não vou entender a vida
Entendo mais de fantasias
e me acostumo com essa sina...

Para sobreviver
tomo com astúcia
o afeto de quem me rodeia

Corrompidos pela minha coreografia
dissimulo charme
e aspirjo perfume
para disfarçar essa alma desagregada


Sou o ladrão que todos
torcem nos filmes
Essa parte é engraçada
a parte em que a protagonista
entra na ciranda
boca da noite
me traz sorriso
me traz noticias de outras terras
e me traz flores
e me faz brisa até a madrugada...
até que venha o amanhecer
que me faz tijolo...
que me faz beco...




Luciano Lopes

QUERES SABER DE SAUDADES?





Não demoras assim, saudades minhas
Já vigiei tanto as frestas das janelas
Vens, passa aqui
vestido branco com margaridinhas
Acenas para mim
Olhos, que sejam
Tuas mãozinhas, que desejo,
que sejam
Não demoras tanto assim saudades minhas
Qualquer hora dessas durmo
de lassidão...
Que dissolvas com sua boca em risos
com os sons da tua voz
essa espera atentada
que meu coração me impele
Ah! Essa saudade que eu já quis tanto
Que já me entreguei tanto
pobre de tua presença
tão rico ficou meu imaginar
silhueta tua em tudo que pode ser belo
que bastava uma brisa
por essas frestas tão vazias
que no cheiro úmido da noite
eu sentiria o cheiro bom das margaridas
do teu vestido...

Luciano Lopes




À porta bate a angústia
Já entraram o medo
A solidão
O silêncio que eu não escolhi
Dos meus ombros escorreram
as asas
Uma respiração mais cadenciada

Talvez eu esteja precisando
reaprender a respirar essa vida...

Luciano Lopes

CONTRASSENSO




Fui ermitão confesso...
E minha ousadia
é o bom conviver de um poeta
que me fiz...
De um jeito sutil
que não é minha virtude mais atenta
pois sou mais de alarde...
construí uma ladeira de paralelepípedos
que expôs minha montanha
onde escorreram meus segredos
que não queria contar...
Onde meus joelhos dobraram
de cansaço e emoção...
onde abdiquei da solidão e do silêncio
e fui aos extremos todos
onde sucumbi a meu vicio
que é a emoção até a dor
Essa mania que me tomou
A exposição que me impõe castigo...
Vê! O que é certo em mim
é o contrassenso!
A liberdade desperdiçada
E essa noção empobrecida
do que se tornou a vida
por eterna
Já que escolhi a carne exposta
A vida por relógio é feia...

Luciano Lopes.